Fala de Impacto 📢

Fala de Impacto #4: Alexandre Sattos sobre ESG no Retalho

As práticas ESG são uma das agendas do momento que mais influenciam a tomada de decisão das organizações e o setor do retalho não é exceção. Quer saber como o retalho está lidar com os critérios ESG? Então, a conversa de hoje é para si!

Falamos com um especialista da área que nos revelou como o ESG deve ser implementado no retalho e quais as suas implicações na cadeia de fornecimento, stakeholders e consumidores, com muitas dicas, exemplos e ideias práticas que não vai querer perder!

O nosso convidado de hoje é o Alexandre Sattos

Alexandre Sattos é um profissional com 18 anos de experiência em gestão de sustentabilidade, responsabilidade social e comunicação corporativa. Ao longo do seu percurso profissional, atuou na implementação de práticas ESG como estratégia empresarial e na adesão a diferentes metodologias, iniciativas e frameworks, incluindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Global Report Initiative (GRI) e o Pacto Global.

Hoje, o Alexandre é responsável pela implementação e gestão de estratégias da agenda  ESG da Ancar Invahoe, uma das maiores plataformas de shopping centers de capital privado no Brasil. Com mais de 45 anos de experiência como proprietária e gestora de empreendimentos comerciais, a empresa tem um portfólio nacional diversificado de 24 shoppings espalhados pelas cinco regiões do país.

Vamos à Fala de Impacto do Alexandre Sattos! Veja o que o nosso convidado partilhou sobre ESG no retalho.

Fala de Impacto #5 – Alexandre Sattos sobre ESG no varejo

A agenda ESG tem chamado cada vez mais a atenção do mundo corporativo. Como o setor do retalho vê esta agenda e a sua implementação no setor? 

Alexandre: A profusão da busca pelo ESG, que ganhou prioridade, inicialmente nas agendas do mercado financeiro e do mundo corporativo, e que foi acelerada com a pandemia da COVID-19, de facto refletem uma mudança sem volta no modo de fazer negócio e gerar lucro. 

É importante ressalvar que, sob o aspeto empresarial, quando falamos da adesão a uma agenda ESG, ou seja, uma agenda que, genuinamente, prevê a realização das atividades comerciais ou produtivas considerando não apenas lucro pelo lucro, mas também a preocupação com processos que respeitem critérios ambientais, sociais e de governança, estamos deixando claro para o mercado e principalmente para os investidores que, o modelo de gestão mudou e que, a adesão a essa agenda é um exercício de identificação e gestão de riscos para a perpetuidade do negócio. 

O foco do ESG é a construção de valor financeiro do negócio, a partir de aspetos não financeiros como temas de diversidade e inclusão, mudanças climáticas e processos de governança sólidos e transparentes.

ESG no Retalho 

O retalho está cada vez mais exposto à pressão para avançar na agenda ESG, principalmente depois da destruição de valor causada pela pandemia. Entretanto, esse mesmo cenário desafiador se configura como uma possibilidade ímpar, para um setor que ensaia novas estratégias e novas formas de pensar o consumo há anos, mas que agora tem a urgência de colocar em prática esse novo modus operandi

Vejo como maior desafio e, ao mesmo tempo tendência, o fato do cliente estar de facto no centro do negócio. O conhecimento da jornada do consumidor vai exigir cada vez mais capacidade analítica, uma vez que esse mesmo consumidor agora pondera e considera cada vez mais fatores para além do produto ou serviço, na hora da compra. 

Para o ecossistema de shopping centers, ambiente em que a Ancar Ivanhoe navega há 50 anos, a jornada ESG se apresenta como uma estrada positiva, mas que requer dedicação e profissionalismo. A própria criação de uma gerência exclusiva para a implementação da agenda na empresa reflete a mudança de estratégica da empresa. 

Acabamos de finalizar um estudo de materialidade que nos apontará os temas mais sensíveis a serem endereçados pela Ancar Ivanhoé no seu planeamento estratégico. Além disso, estamos iniciando um diagnóstico de maturidade ESG que também nos suportará para sermos mais assertivos em todos os aspetos da agenda ESG que será implementada. 

As mudanças nos hábitos dos consumidores têm algum impacto nessa tomada de decisão?

Alexandre: Totalmente. Como mencionei, a decisão de ter o consumidor no centro do negócio passa obrigatoriamente pelo entendimento da mudança, não somente dos hábitos de compras, mas também a mudança das relações dos consumidores com os componentes que envolvem o processo de compra em si, e principalmente, a busca por novas experiências.

Dados apresentados no Relatório do Fórum Económico Mundial apontam que a pandemia, para além da destruição sanitária causou uma erosão social drástica na população mundial. O consumo claramente foi afetado e as prioridades alteradas. Soma-se a esse fato, movimentos cada vez mais pulsantes que provocam empresas e governos a repensarem o consumo.

A implementação dos critérios ESG tem implicações na cadeia de fornecimento? Na sua opinião, é um processo que deve ser realizado em conjunto com outros stakeholders? 

Alexandre: A base para o sucesso de uma agenda ESG passa obrigatoriamente por uma boa gestão das partes interessadas ou stakeholders.

O impacto da implementação de um novo processo que vise práticas ESG alcança todos os atores da cadeia de fornecimento. Não adianta a ponta do processo resolver implementar um determinado processo ou estabelecer uma meta e não considerar as peculiaridades da sua cadeia de fornecimento. 

Na Ancar Invahoé, por exemplo, estamos desenhando o planeamento da Agenda ESG 2030 considerando a nossa matriz de stakeholders, inclusive lojistas e fornecedores. A experiência de cada player, em sua área de atuação, contribui diretamente para o sucesso conjunto da estratégia. Não é plausível que se defina uma meta x de redução de emissões de GEE em todos os nossos shoppings, incluindo escopo 3, por exemplo, e não considerar a realidade dos fornecedores, que usam na sua maioria dos trajetos transporte com combustível fóssil.

Como as empresas de retalho podem tornar-se cada vez mais sustentáveis e alinhadas com os critérios ESG, mas continuarem competitivas e focadas no lucro? Que boas práticas devem ser implementadas para cumprir essa agenda no retalho? 

Alexandre: Entendo ser importante atualizarmos o conceito de desenvolvimento sustentável. Uma definição que, particularmente, gosto é de que o desenvolvimento sustentável considera o lucro das operações, de maneira duradoura e ininterrupta que atenta a um propósito para além do lucro dos acionistas.

Dessa forma, quando falamos em lucro, e reforço aqui que não há nenhum problema em falarmos de lucro, estamos falando de um lucro proveniente de um foco nos stakeholders, princípio do Capitalismo de Stakeholders.

A partir desse entendimento, fica claro que a adesão a uma agenda ESG, ao contrário do que muitas vezes é propagado no mercado, é um caminho que identifica e mitiga riscos que se não observados, poderiam facilmente causar entre outras consequências, diminuição de lucro. 

Casos de racismo podem levar a processos milionários contra empresas que não entenderem a sua posição no enfrentamento desse tema, para além de questões reputacionais. Portanto, a estruturação de uma política séria e sólida de diversidade e inclusão, além de processos que, na prática, inibam a possibilidade desse risco ocorrer, contribuem decisivamente para a possibilidade de destruição de valor financeiro da empresa.

A indústria do retalho possui nesse componente, riscos mais sensíveis, uma vez que a própria cadeia de valor é extensa e historicamente envolvida com essas questões. O esforço deve ser mútuo para a busca de soluções conjuntas e que reforcem o setor.

No aspeto ambiental, vejo que o setor já percebeu a importância de ações estruturadas que impactam diretamente no fluxo de caixa. A busca por uso de energia de fonte renovável, investimentos em lâmpadas com melhor eficiência energética, estudos e projetos que visam à reciclagem e a economia circular são exemplos de boas práticas que à primeira vista podem representar custo, mas que, à luz de uma agenda ESG sólida representa investimentos que blindarão a empresa para o risco de perda de valor financeiro no longo prazo.

Não esqueçamos das práticas de governança que, ao meu ver, é a base de toda agenda ESG. A instituição de um Comité ESG com membros do mais alto nível de governança da empresa é imprescindível para que a agenda seja desdobrada e absorvida por todos os níveis da organização. 

Destaco também a importância de uma política de Compliance de fácil entendimento para toda a empresa de modo que possa subsidiar todos os processos da companhia. A adoção dessa mentalidade por cada vez mais empresas, tenho certeza de que torna o setor como um todo mais forte e competitivo para os desafios que ainda se apresentarão.

Poderia dar-nos alguns exemplos de práticas ESG implementadas ou vivenciadas por si no setor de retalho?

Alexandre: O retalho brasileiro é por si só inovador, até por uma questão de sobrevivência e economia de mercado. Temos empresas que estão desenvolvendo estratégias vencedoras de ESG para se manterem competitivas, aceleradas com a pandemia. 

No setor de shoppings centers, por exemplo, estamos vendo cada vez mais investidores cobrarem posicionamentos relacionados à adoção de práticas ESG. 

Governança

Na Ancar Invanhoé, conseguimos formalizar em 2022 o Comitê ESG formado por membros do mais alto nível de governança da empresa. O comité é responsável por deliberar sobre a estratégia ESG da empresa e fazê-la permeável por todos os setores. 

A prática fortalece o tema na agenda dos executivos e garante a implementação das ações. Estamos em fase de elaboração de uma Política de Riscos com vistas ao mapeamento dos riscos de sustentabilidade e consequentemente ESG as quais a companhia está exposta. 

Essa prática é fundamental para o entendimento correto dos temas a serem endereçados na agenda ESG da empresa. Ainda sob o aspeto da governança, seguimos perseguindo instrumentos que dêem transparência e clareza aos stakholders, em geral, sobre as ações da empresa. 

Exemplo dessa mentalidade é o lançamento, agora em 2022, do nosso primeiro Relatório de Sustentabilidade baseado no standard Global Reporting Initiative, GRI. O relatório é um importante instrumento de governança e tomada de decisão para o relacionamento, principalmente com investidores. 

Inovação

A companhia instituiu a inovação como um norteador estratégico do seu negócio. Dessa forma, foi criado um Comitê de Transformação Digital com o objetivo de apoiar os acionistas na avaliação, priorização e acompanhamento dos projetos digitais mais relevantes na companhia, sendo composto por membros internos e externos. 

Além disso, desde 2020 investimos numa área de inovação e novos produtos digitais, a Ancar X, com o objetivo de tornar a jornada do consumidor nos shoppings cada vez mais fluida entre o online e o offline.

Sustentabilidade

Desde 2018, dispomos de uma Política de Sustentabilidade, que reforça a nossa posição de respeito ao meio ambiente, destacando a nossa capacidade de gerar valor através de programas ambientais, de educação e de envolvimento com as comunidades locais. 

Os nossos shoppings possuem comités de sustentabilidade que discutem periodicamente iniciativas ambientais que se conectam com as estratégias macro de ESG, como por exemplo, gestão de resíduos e metas de reciclagem, uso eficiente de recursos naturais, campanhas de comunicação de temas ambientais. Destaque para o Telhado Verde, espaço que alguns shoppings possuem dedicados a plantação de hortas com adubo proveniente dos processos de compostagem dos shoppings. 

No shopping Eldorado, em SP, compostamos cerca de 60 toneladas de lixo orgânico proveniente das praças de alimentação. A horta ocupa 6 mil m2 e produz 40 mil unidades de mais de 30 tipos diferentes de hortaliças e verduras – tais como alface crespa, alface americana, rúcula, abobrinha, couve, salsinha, tomate, pimenta, cebolinha, beringela e chás – que são entregues aos funcionários e projetos sociais. Desde a sua implantação, o Telhado Verde já recebeu mais de 15.000 visitantes.

Em dez shoppings do nosso ecossistema, transformamos mensalmente o óleo gerado nas praças de alimentação e doado pelos clientes, em barras de sabão e velas aromatizadas para doação a lojistas e clientes, evitando o descarte de óleo no meio ambiente, a contaminação da rede de esgoto e a proliferação de pragas. Anualmente, mais de cinco mil litros de óleo são transformados em 8 mil barras de sabão e velas.

Temos em alguns de nossos shoppings espaços dedicados exclusivamente para o tema sustentabilidade, seguindo o conceito Sustentabilidade Transforma. Nesses espaços são apresentados projetos da empresa além de parcerias que buscam envolver e engajar os consumidores a terem hábitos e atitudes com foco na sustentabilidade.

Outros exemplos de boas práticas

Dentre outros exemplos de boa prática que destaco na nossa estrutura é a formalização, desde 2021, da Política de Diversidade e Inclusão, como fruto de um sério assessment junto a uma consultoria especializada no tema. Esse assessment também apontou a necessidade de iniciativas como a formação de um Comitê de Diversidade, com representantes de todas as áreas e níveis da empresa para um debate aberto de melhorias no aspeto da diversidade e inclusão. 

Já em 2022 iniciamos uma discussão centrada em ações concretas que inibam práticas racistas através da criação de um grupo de trabalho com representantes das jurídicas, RH, Compliance, Procurement, Operações e ESG. Mudanças em cláusulas contratuais, campanhas de comunicação e treinos focados nos trabalhadores terceirizados são algumas das ações já implementadas na companhia e que se somarão ao plano estratégico da Agenda ESG 2030 no futuro. 

Esses instrumentos, direcionam as ações da empresa frente a esse tema tão sensível e que retalho, a meu ver, tem uma carga de risco mais considerável. Afinal lidamos com pessoas diretamente. O serviço está quase sempre, conectado com o produto. 

Social

Em termos de atuação social, posso destacar o DNA da empresa voltado para o tema. Desde a sua criação, por meio do fundador Dr. Sergio Carvalho, a empresa já se preocupava em apoiar projetos que cumprisse com o papel social na comunidade circundante dos seus empreendimentos. Destaco o Projeto Plantando o Amanhã, instalado no shopping Nova América, Rio de Janeiro, que desde 1995, é responsável pelo atendimento educacional a crianças, adolescentes, jovens e adultos das comunidades do entorno.

O projeto oferece educação profissional e formação continuada, promovendo a educação através do desporto, arte e cultura, com acompanhamento personalizado, reforço de disciplinas bases, trabalho socioemocional, desenvolvimento cultural e complementação escolar no contraturno. 

Em 2021, 60 alunos participaram do projeto Protótipo, de educação integral, 210 alunos participaram do projeto Só Esportes e 175 crianças foram atendidas pela creche do projeto. 

Assim como essa iniciativa, a empresa apoia outros diversos projetos e campanhas que reforçam a mentalidade de uma empresa engajada com os seus stakeholders e ciente do seu papel na transformação de uma realidade social. No ano passado, arrecadamos mais de 170 toneladas de alimentos para a campanha Natal sem Fome através do engajamento dos shoppings do nosso ecossistema. 

Esperamos ampliar o nosso poder atuação a partir de 2022 com parcerias com startups e utilização de recursos de fiscais para apoio a mais projetos locais, com foco em desenvolvimento e inclusão social.

Qual o principal desafio da implantação da agenda ESG no setor do retalho? Como superá-lo? 

Alexandre: Eu vejo como um conjunto de desafios e não apenas um principal. O que é imperativo que se tenha em mente é a clareza do porquê estarmos tratando do tema ESG no setor para além de uma moda. Termos a clareza que a discussão dessa agenda ultrapassa as questões de custo ou obrigatoriedade legal. 

Estamos falando de sobrevivência. Quem não aderir a essa jornada, tem um grande risco de deixar de existir. A inovação precisa guiar a mentalidade do setor nessa jornada. Modelos de negócio que funcionavam a 10, 20, 30 anos atrás já não são garantias de perpetuidade. Novamente, a mentalidade do consumidor mudou. Se tornou mais complexo entender esse comportamento com relação ao consumo. Não podemos perder de vista o conceito já mencionado de desenvolvimento sustentável, com foco em lucro e propósito. 

Como vê a incorporação dos pilares ESG no setor de retalho a médio/longo prazo? Qual seria a sua “previsão de futuro” para o ESG no segmento?

Alexandre: A minha visão é de curto prazo. A revolução já começou e o retalho, mesmo que no início da jornada já entendeu que ESG veio para ficar. Não se trata de uma previsão do futuro, mas uma certeza baseada em números, pesquisas de tendência e comportamento do consumidor. Os modelos de negócios de grandes marcas do retalho já consideram esses pilares nas suas estratégias. 

Para os players de capital aberto, podemos verificar, por exemplo, nos seus relatórios de sustentabilidade, como a mentalidade ESG já permeia o negócio. Claro, respeitando o estágio de maturidade de cada empresa. O fato é que o presente,  já nos dá clara indicação de que a adesão à agenda ESG é uma realidade, baseada em estudos técnicos e que esse é um caminho sem volta, ainda bem.

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