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O que é capacitação de comunidades e porque deve a sua OSC investir neste modelo de trabalho

As Organizações de Sociedade Civil (OSCs) desenvolvem, diariamente, um trabalho notável no apoio às comunidades mais vulneráveis, principalmente durante esta crise pandémica. Se a ajuda que oferecem é essencial para a sobrevivência de muitas pessoas, é importante, também, pensar agora em estratégias a longo prazo. Elas criam oportunidades para as pessoas saírem da vulnerabilidade e deixarem de necessitar de apoio social. Por isso, é tão importante perceber o que é capacitação de comunidades.

Esta estratégia, que pode ser seguida e tem grande potencial, é o modelo de trabalho que vamos apresentar neste artigo. Com a leitura, a sua OSC pode perceber como implementar nas comunidades que ajuda. Assim, é possível sair da situação de carência em que se encontra através da partilha de competências.

O que é capacitação de comunidades vulneráveis? 

Podemos definir a capacitação como um processo de assimilação de conhecimentos com a finalidade de possibilitar que uma pessoa realize uma atividade. Quem capacita, partilha o seu conhecimento e possibilita à pessoa capacitada a autonomia de realizar tarefas a partir do que aprendeu. 

Nesse sentido, mais do que uma transferência de conhecimento, a capacitação oferece a possibilidade a pessoas em vulnerabilidade social de conseguirem rendimentos e meios próprios de subsistência. Assim, melhoram a sua situação de vida. 

Esta é uma forma de dar ferramentas a quem precisa para transformar a sua realidade, não só no agora, mas a longo prazo. 

Tendo em conta que cada pessoa vulnerável tem, normalmente, um agregado familiar que depende totalmente ou em parte dela, ao proporcionarmos-lhe uma solução, estamos a ajudar, também, toda a sua família a melhorar as suas condições de vida. Assim, esta é uma solução multiplicadora de bem, que abrange mais do que apenas a pessoa capacitada. 

Agora você já sabe o que é capacitação de comunidades vulneráveis. Vejamos, agora, porque capacitar é uma estratégia mais poderosa do que doar, quando queremos mudar a realidade de alguém de forma duradoura.

Doar vs capacitar

Uma das principais formas utilizadas pelas OSCs para ajudar populações vulneráveis é através de doações. Ao doar, a sua OSC faz uma transferência de um bem para uma pessoa vulnerável por forma a ajudá-la a suprir uma necessidade, a curto prazo. 

Normalmente, as doações são realizadas através da entrega de:

  • bens alimentares;
  • roupas e agasalhos;
  • ração animal;
  • brinquedos;
  • produtos de higiene;
  • habitação e dinheiro.

Os donativos recolhidos em campanhas constituem uma grande ajuda para quem está a passar por uma situação de vulnerabilidade.

Por sua vez, quando uma OSC capacita uma pessoa em carência social, vai suprir uma necessidade a longo prazo. Afinal, lhe vai dar ferramentas para sair da situação em que se encontra e conseguir uma vida melhor. 

Assim, podemos concluir que doar é muito importante para ajudar na assistência a um problema social e tem especial valor na resposta a situações de emergência social.

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O papel das organizações sociais na ajuda às comunidades

Desde a idade média que as organizações sociais desempenham, em Portugal, um papel fundamental na ajuda às comunidades vulneráveis e no combate às desigualdades sociais. Papel muito inspirado nos valores cristãos de caridade, fortemente enraizados na nossa cultura. 

Aliás, segundo um estudo da Nova School of Business and Economics, 53% das OSCs neste país, tem como atividade principal o serviço social. Não é admirar, portanto, que hoje em dia, as organizações sejam instrumentais na redução da pobreza, na exclusão social e no apoio às comunidades com carências.

Formadas por comunidades civis ou iniciativas dos setores privados, as OSCs cumprem funções que as organizações governamentais não conseguem alcançar. Além disso, oferecem um lado humano muito forte para problemáticas que, muitas vezes, são vistas apenas como números pelos outros setores. 

Em situações de emergência, como desastres naturais ou, até, uma pandemia como a que vivemos, a intervenção das OSCs é crucial no apoio às comunidades. A sua rápida intervenção com a doação de bens necessários e o conhecimento que possuem no terreno, ajuda a auxiliar de forma mais célere e organizada as pessoas que estão em situação grave de carência. 

Como solucionar a génese do problema social?

Percebemos, assim, que a cultura de doação e o carácter assistencial das organizações sociais é importante para poder dar resposta a emergências e apoios a pessoas que se veem, repentinamente, sem meios para subsistir. 

Mas para solucionar a génese do problema social é necessário desempenhar um papel mais proactivo que deixe esta necessidade de assistência social e retire as pessoas da sua situação de vulnerabilidade, de forma definitiva, em vez de perpetuar um apoio que apenas soluciona o problema, momentaneamente. 

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados recentemente pela ONU para a erradicação da pobreza, apontam exatamente nessa direção. Estas metas incentivam OSCs e governos de todo o mundo a focar os seus esforços em iniciativas que desenvolvam as sociedades e acabem com alguns dos principais problemas sociais e ambientais.

A capacitação de pessoas com carências sociais é uma forma de ajudar a cumprir as metas e encontrar uma solução mais duradoura para apoiar quem precisa.

Neste próximo tópico, explicamos porque pode ser tão importante para as OSCs.

Capacitar: o caminho para quebrar o ciclo de pobreza

As pessoas que vivem em situação precária têm dificuldades em conseguir um emprego. Por isso, ficam presas num ciclo vicioso que se prolonga por gerações e os mantém reféns desta falta de oportunidades.

Segundo a OCDE, em Portugal, são precisas cinco gerações para uma família sair da pobreza. A ideia é cimentada, também, num estudo sobre a perceção da pobreza em Portugal, em que 77% dos inquiridos afirmaram que têm poucas ou nenhumas possibilidades de sair dessa situação. O mesmo estudo indica, ainda, que as razões que mais contribuem para a existência de pobreza são: o desemprego de longa duração, os baixos salários e a precariedade do emprego

Capacitar é, então, um caminho fundamental para quebrar este ciclo e dar poder às comunidades vulneráveis. Quando as OSCs desenvolvem iniciativas que capacitam pessoas, grupos e comunidades, através de formações, desenvolvimento de competências e acesso a ferramentas, estão a atuar para:

  • Solucionar a causa do problema, em vez de apenas tentarem curar os seus sintomas;
  • Dar às pessoas em situação vulnerável a oportunidade de mudarem a sua realidade e criarem o seu próprio caminho;
  • Gerar novos empregos ou formas de rendimento, a longo prazo;
  • Gerar desenvolvimento sustentável com impacto social e económico na sociedade em que se inserem; 
  • Criar novas oportunidades (como por exemplo, empregos ou investimento na educação dos filhos) para que mais pessoas na comunidade saiam da mesma situação;
  • Contribuir para uma maior inclusão social.

Perceber o que é a capacitação é um caminho importante para mudar as condições de vida de pessoas em vulnerabilidade, ensinar-lhes competências e torná-las competitivas na sociedade atual, deixando a situação de carência em que estavam inseridas por um futuro mais positivo e cheio de oportunidades.

Sinergias com o Estado e Empresas

Este não deve ser um caminho feito de forma solitária pelas OSCs. Pelo contrário, deve ser uma tarefa coletiva apoiada em parcerias com empresas e governo local. 

Isto porque responde a necessidades sociais que favorecem a economia formal, o seu funcionamento e capacidade competitiva, especialmente se pensarmos que as pessoas capacitadas vão consumir matérias-primas e precisar de fornecedores, produzir bens e serviços economicamente úteis e, até, criar mais empregos na comunidade.

Estado

O Estado sempre desempenhou um papel de apoio e fiscalização das instituições de solidariedade. Através de financiamentos, com subsídios ou acordos de utilização de serviços e equipamentos públicos, o Estado ajuda as instituições a terem mais recursos para desempenharem as suas missões. 

Exemplo de atuação: Para capacitar e, para que nenhum jovem seja privado do direito à educação (consagrado na Constituição da República Portuguesa), o Estado já atribui bolsas de estudo a estudantes do Ensino Secundário ou cursos equivalentes e estudantes do Ensino Superior que vivam situações de vulnerabilidade social.

Uma nova possibilidade seria, também, colaborar com organizações sociais para realizarem formações financiadas como costura, informática ou outra competência profissional direcionadas exclusivamente para pessoas de comunidades vulneráveis.

Empresas locais

As empresas são uma peça fundamental nesta mudança de paradigma e possuem o recurso transformativo mais precioso – o capital humano de conhecimentos e competências.

Esse valor pode gerar um ecossistema de impacto positivo que beneficia tanto as empresas como as comunidades em que se inserem, já que muitos dos seus trabalhadores pertencem a esses grupos ou moram nessas regiões. Quando prosperam e vivem melhor, transpõem, também, para o seu trabalho e entidade empregadora os benefícios que receberam.

Exemplo de atuação: As empresas podem, por exemplo,  dar formações através de voluntariado de competências a mulheres  de uma comunidade vulnerável apoiadas por uma instituição local para que possam desenvolver o seu próprio negócio. Aqui, as OSCs funcionam como o impulsionador de mudança e fazem a ponte entre as comunidades que ajudam e as oportunidades oferecidas pelas empresas e governo. 

No final, não se esqueça de medir e avaliar o impacto social gerado para poder perceber, realmente, os resultados das suas ações e poder ajustar e melhorar nas seguintes.

3 maneiras de capacitar comunidades vulneráveis

Existem várias formas de capacitar as comunidades mais vulneráveis, com foco em dotar as pessoas com competências e conhecimentos.

Vejamos alguns exemplos:

1. Formações profissionais em comunidades locais

Intervir junto da comunidade atendendo às suas necessidades de trabalho é uma boa forma de capacitar para novas oportunidades. Através do ensino de competências práticas em formações profissionais (com aulas de línguas, costura, estética, contabilidade, marketing, etc.), desenvolvidas em parceria com empresas ou o Estado, promove-se a inserção das pessoas em vulnerabilidade no mercado de trabalho. Isto vai, ajudá-las a empreenderem, também, os seus próprios projetos. 

2. Bolsas de estudo para crianças e jovens 

As bolsas de estudo, tanto financiadas pelo Estado como promovidas por OSCs são uma boa forma de apostar na capacitação de crianças e jovens. Este meio pode combater o abandono escolar e evitar a marginalização de jovens sem estudos e ocupação laboral que perpetuam a vulnerabilidade de comunidades. A educação é uma ferramenta que transforma realidades e diminui as necessidades sociais, sendo uma aposta importante para melhorar a vida destas comunidades.

3. Programas de aceleração de impacto social 

Esta nova forma de capacitar, baseia-se em iniciativas de Responsabilidade Social de empresas. Estas procuram ajudar a resolver um problema social com a partilha do seu know-how, competências dos seus trabalhadores e o uso de tecnologia.

As OSCs podem candidatar-se a estes programas de aceleração na esolidar para capacitar as comunidades vulneráveis que apoiam. Assim, dão-lhes a oportunidade de crescerem e se desenvolverem a longo prazo.

Esta alternativa inclui tanto a capacitação com competências (voluntariado de competências), como alternativas para ajudar no desenvolvimento de negócios e trabalhos (crowdfunding e lojas solidárias), sobre as quais falaremos a seguir.

Como garantir a manutenção dos projetos após a capacitação?  

Além de apostar em capacitação de indivíduos e comunidades, cabe às OSCs e empresas parceiras pensarem em caminhos para garantir a subsistência dos projetos estimulados.

Aqui vão duas dicas de investimentos que podem contribuir para a manutenção do ciclo de desenvolvimento dos projetos capacitados:

1. Microcrédito

O microcrédito é um pequeno empréstimo que apoia projetos de empreendedorismo e criação do próprio emprego a pessoas que não conseguem obter crédito junto das instituições tradicionais. O dinheiro é recolhido, normalmente, através de pequenos investimentos de pessoas que acreditam no projeto e pode servir para comprar maquinaria, matérias-primas ou outros recursos necessários ao início de atividade.

2. Campanhas de crowdfunding 

Neste tipo de campanhas, o financiamento é feito de forma coletiva para alcançar uma meta definida (como o valor necessário para a compra de um equipamento ou pagamento de uma bolsa de formadores), através de doações de várias pessoas individuais ou empresas.

As campanhas podem ser por:

  • Recompensa: quem cria a campanha de crowdfunding oferece uma recompensa aos participantes que financiam o projeto.
  • Doação: uma vertente muito utilizada por OSCs, que funcionam através de donativos sem recompensa. É o caso das campanhas de crowdfunding que as organizações sociais podem fazer na esolidar.
  • Capital:  aqui o investidor tornar-se parte do grupo de acionistas do projeto. Ao investir numa campanha, compra uma pequena parte da empresa, assumindo todos os direitos e deveres de um acionista.
  • Empréstimos (Peer-to-Peer): este tipo de campanha funciona como um empréstimo, em que quem investe fundos para apoiar o projeto recebe uma taxa de retorno. Existe o risco de não receber nenhum valor de volta.

Agora você sabe o que é capacitação de comunidades vulneráveis e conhece os principais caminhos para colocar esta ideia em prática.

Quer perceber um pouco mais sobre o Programa de Aceleração de Negócios de Impacto? A solução está a ganhar a atenção de empresas e órgãos governamentais, e pode ser o impulso necessário para ajudar a sua OSC a transformar a vida de comunidades inteiras!

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