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ONGs que mudam o mundo

O que é capacitação de comunidades? Por que sua OSC deve investir neste modelo?

As Organizações de Sociedade Civil (OSCs) desenvolvem, diariamente, um trabalho notável no apoio às comunidades vulneráveis, principalmente durante a pandemia. De acordo com o Nexo, foram mais de R$6,3 bilhões doados por ONGs, empresas e sociedade civil entre março de 2020 e março de 2021.

Entretanto, quando falamos em desenvolvimento sustentável, precisamos ir além da cultura de doação nas empresas e nas instituições sociais. É importante pensarmos, também, em estratégias que contribuam para a subsistência deste público no longo prazo. Por isso, é tão importante entender o que é capacitação de comunidades.

Esta estratégia é o modelo de trabalho que vamos apresentar neste artigo. Continue a leitura para entender:

  • o que é capacitação de comunidades;
  • como sua OSC pode implementar o modelo;
  • dicas para ajudar o público assistido a sair da situação de carência em que se encontra por meio da partilha de competências.

Boa leitura!

O que é capacitação de comunidades vulneráveis? 

Podemos definir a capacitação como um processo de assimilação de conhecimentos. Sua finalidade é possibilitar que uma pessoa realize uma atividade. Quem capacita, compartilha o seu conhecimento e possibilita à pessoa capacitada a autonomia de realizar tarefas a partir do que aprendeu. 

Nesse sentido, mais do que uma transferência de conhecimento, a capacitação oferece a possibilidade a pessoas em vulnerabilidade social de conseguirem rendimentos e meios próprios de subsistência. Assim, melhoram a sua situação de vida. 

Além disso, com a capacitação de comunidades, é possível criar uma solução multiplicadora de bem, que abrange mais do que apenas a pessoa capacitada. Afinal, com as habilidades adquiridas, um só indivíduo pode movimentar economicamente a comunidade em que vive, criar uma rede de conhecimentos e ajudar, direta e indiretamente, a familiares, vizinhos, fornecedores e parceiros.

Agora você já sabe o que é capacitação de comunidades vulneráveis. Vejamos, a seguir, porque capacitar é uma estratégia mais poderosa do que doar quando queremos mudar a realidade de alguém de forma duradoura.

Doar vs capacitar

Uma das principais formas utilizadas pelas OSCs para ajudar populações vulneráveis é a doação. Ao doar, a sua OSC faz a transferência de um bem para uma pessoa vulnerável, ajudando-a a suprir uma necessidade a curto prazo. 

Normalmente, as doações são realizadas através da entrega de:

  • bens alimentares;
  • roupas e agasalhos;
  • ração animal;
  • brinquedos;
  • produtos de higiene;
  • habitação e dinheiro.

Os donativos recolhidos em campanhas constituem uma grande ajuda para quem passa por uma situação de vulnerabilidade.

Porém, em contrapartida, quando uma OSC capacita uma pessoa em carência social, supre uma necessidade a longo prazo. Afinal, lhe dá ferramentas para sair da situação em que se encontra e conseguir uma vida melhor. 

O papel das organizações sociais na ajuda às comunidades

Estima-se que, no Brasil, o número de OSCs esteja entre 237 mil e 781 mil (de acordo com as pesquisas FASFIL do IBGE e o Mapa das OSCs do IPEA, respectivamente). Estas organizações se identificam sob diferentes bandeiras, mas prestam serviços de apoio às comunidades de igual forma.

Veja, por exemplo, como a pesquisa FASFIL, do IBGE, segmenta os perfis de atuação das OSCs no Brasil:

(Imagem: G1)

Formadas por comunidades civis ou iniciativas dos setores privados, as OSCs cumprem funções que as organizações governamentais não conseguem alcançar. Além disso, oferecem uma tratativa humanizada para problemáticas que, muitas vezes, são vistas apenas como números pelos outros setores. 

Em situações de emergência, como desastres naturais ou até uma pandemia como a que vivemos, a intervenção das OSCs é crucial no apoio às comunidades. A sua rápida intervenção com a doação de bens necessários e o conhecimento que possuem no terreno, ajuda a auxiliar de forma mais célere e organizada as pessoas que estão em situação grave de carência. 

Mas como solucionar a raiz do problema social?

A cultura de doação e o caráter assistencial das organizações sociais são importantes para assegurar respostas a emergências e apoios a pessoas que se veem, repentinamente, diante de uma situação de vulnerabilidade. 

Mas, como falamos ao longo deste artigo, soluções como esta funcionam como apoios pontuais.

Em contrapartida, para solucionar a raiz do problema social, é necessário desempenhar um papel mais proativo, pautado no desenvolvimento de habilidades e competências que possam, efetivamente, conduzir os indivíduos rumo a uma situação de vida mais digna no médio e longo prazo.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados recentemente pela ONU para a erradicação da pobreza, apontam exatamente nessa direção. Estas metas incentivam OSCs e governos de todo o mundo a focar os seus esforços em iniciativas que desenvolvam as sociedades e acabem com alguns dos principais problemas sociais e ambientais.

Saber o que é capacitação de comunidades e investir no desenvolvimento de pessoas com carências sociais é uma forma de ajudar a cumprir as metas e encontrar uma solução mais duradoura para apoiar quem precisa.

Neste próximo tópico, explicamos por que saber o que é capacitação de comunidades pode ser tão importante para as OSCs.

Capacitar: o caminho para quebrar o ciclo de pobreza

As pessoas que vivem em situação precária têm dificuldades em conseguir um emprego. Por isso, ficam presas em um ciclo vicioso que se prolonga por gerações e os mantém reféns desta falta de oportunidades.

De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, a pandemia do novo coronavírus fez com que o número de brasileiros que vivem na pobreza saltasse de 9,5 milhões em agosto de 2020 para mais de 27 milhões em fevereiro de 2021.

Este número compreende uma infinidade de trabalhadores que operam em funções precárias e que sabem que, se desenvolverem suas competências, podem obter melhores oportunidades no mercado. Entretanto, as condições de vida nas quais se encontram (e as condições do trabalho do qual dependem) os impedem de buscarem tais capacitações. Entende o por quê do nome “ciclo vicioso”?

Há, entretanto, evidências que mostram que a capacitação pode ser uma ferramenta efetiva de transformação social. O estudo “Promoting Pathways to Decent Work“, da Organização Mundial do Trabalho, concluiu que, embora os efeitos da capacitação e treinamento demorem mais para se materializar, acabam resultando em maior empregabilidade e em rendimentos mais elevados para o trabalhador, para a empresa e para a sociedade.

Capacitar é, portanto, um caminho fundamental para quebrar o ciclo vicioso da pobreza e dar poder às comunidades vulneráveis. Quando as OSCs desenvolvem iniciativas que capacitam pessoas, grupos e comunidades, elas atuam para:

  • Solucionar a causa do problema, em vez de apenas tentarem curar os seus sintomas;
  • Dar às pessoas em situação vulnerável a oportunidade de mudarem a sua realidade e criarem o seu próprio caminho;
  • Gerar novos empregos ou formas de rendimento, a longo prazo;
  • Gerar desenvolvimento sustentável com impacto social e econômico na sociedade em que se inserem; 
  • Criar novas oportunidades (como empregos ou investimento na educação dos filhos) para que mais pessoas na comunidade saiam da mesma situação;
  • Contribuir para uma maior inclusão social.

Entender o que é a capacitação é um caminho importante para mudar as condições de vida de pessoas em vulnerabilidade. Ao ensinar-lhes competências e torná-las competitivas na sociedade atual, é possível contribuir ativamente para que deixem a situação de carência em que estavam inseridas em prol de um futuro mais positivo e cheio de oportunidades.

Sinergias com o Estado e Empresas

Além de entender o que é capacitação de comunidades, é preciso ter em mente que este não deve ser um caminho feito de forma solitária pelas OSCs. Pelo contrário, deve ser uma tarefa coletiva apoiada em parcerias públicas e privadas, com empresas dispostas a gerar impacto social.

Isto porque o movimento responde a necessidades sociais que favorecem a economia formal, o seu funcionamento e capacidade competitiva. Especialmente se pensarmos que as pessoas capacitadas vão consumir matérias-primas e precisar de fornecedores, produzir bens e serviços economicamente úteis e, até, criar mais empregos na comunidade.

Estado

O Estado sempre desempenhou um papel de apoio e fiscalização das instituições de solidariedade. Através de financiamentos, com subsídios ou acordos de utilização de serviços e equipamentos públicos, o Estado ajuda as instituições a terem mais recursos para desempenharem as suas missões. 

Exemplo de atuação: Para capacitar e, para que nenhum jovem seja privado do direito à educação, o Brasil desenvolveu uma série de programas de incentivo à educação. Nos portais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e no próprio Ministério da Educação, é possível encontrar as iniciativas vigentes no momento.

Empresas locais

As empresas são uma peça fundamental nesta mudança de paradigma e possuem o recurso transformativo mais precioso – o capital humano de conhecimentos e competências.

Esse valor pode gerar um ecossistema de impacto positivo que beneficia tanto as empresas como as comunidades em que se inserem, já que muitos dos seus trabalhadores pertencem a esses grupos ou moram nessas regiões. Quando prosperam e vivem melhor, transpõem, também, para o seu trabalho e entidade empregadora os benefícios que receberam.

Exemplo de atuação: As empresas podem, por exemplo,  dar formações por meio de voluntariado de competências a mulheres de uma comunidade vulnerável apoiadas por uma instituição local. Assim, as assistidas podem desenvolver o seu próprio negócio. Aqui, as OSCs funcionam como o impulsionador de mudança e fazem a ponte entre as comunidades que ajudam e as oportunidades oferecidas pelas empresas. 

Maneiras de capacitar populações vulneráveis

Existem várias formas de capacitar as populações vulneráveis. Algumas delas, mostramos no tópico anterior.

Porém, é possível fazer ainda mais. Por isso, listamos 2 maneiras de promover capacitações focadas em dotar as pessoas com competências e conhecimentos.

Vejamos alguns exemplos.

1. Formações profissionais em comunidades locais

Intervir junto da comunidade atendendo às suas necessidades de trabalho é uma boa forma de capacitar para novas oportunidades. Por meio do ensino de competências práticas em formações profissionais (com aulas de línguas, costura, estética, contabilidade, marketing, etc.), desenvolvidas em parceria com empresas ou o Estado, é possível promover a inserção das pessoas em vulnerabilidade no mercado de trabalho. Isto vai ajudá-las a empreenderem, também, em seus próprios projetos. 

2. Bolsas de estudo para crianças e jovens 

As bolsas de estudo, tanto financiadas pelo Estado quanto promovidas por OSCs são uma boa forma de apostar na capacitação de crianças e jovens. Esta solução ajuda a combater o abandono escolar e a guiar os jovens por uma trajetória de desenvolvimento pessoal e profissional.

A educação é uma ferramenta que transforma realidades e diminui as necessidades sociais, sendo uma aposta importante para melhorar a vida destas comunidades.

3. Programas de aceleração de impacto social 

Os Programas de Aceleração de Impacto Social são uma alternativa cada vez mais utilizada por grandes empresas e instituições governamentais que buscam tornar-se agentes de transformação. Por meio do programa, as entidades capacitam e impulsionam pequenos negócios a se profissionalizarem e capacitarem. Dessa forma, asseguram sua subsistência no médio/ longo prazo.

As OSCs podem candidatar-se a estes programas de aceleração na esolidar para capacitar as comunidades vulneráveis que apoiam. Assim, dão-lhes a oportunidade de crescerem e se desenvolverem.

Esta alternativa inclui tanto a capacitação com competências (voluntariado de competências), como propostas para ajudar no desenvolvimento e na manutenção de negócios e trabalhos (crowdfunding e lojas solidárias), tema do próximo tópico deste artigo.

Como garantir a subsistência dos projetos e comunidades pós-capacitação?

Além de apostar em capacitação de indivíduos e comunidades, cabe às OSCs e empresas parceiras pensarem em caminhos para garantir a subsistência dos projetos estimulados.

Aqui vão duas dicas de investimentos que podem contribuir para a manutenção do ciclo de desenvolvimento dos projetos capacitados:

1. Microcrédito

O microcrédito é um pequeno empréstimo que apoia projetos de empreendedorismo e criação do próprio emprego a pessoas que não conseguem obter crédito junto das instituições tradicionais. O dinheiro é recolhido, normalmente, através de pequenos investimentos de pessoas que acreditam no projeto e pode servir para comprar maquinaria, matérias-primas ou outros recursos necessários ao início da atividade.

2. Campanha de crowdfunding

Neste tipo de campanhas, o financiamento é feito de forma coletiva para alcançar uma meta definida (como o valor necessário para a compra de um equipamento ou pagamento de uma bolsa de formadores), por meio de doações de várias pessoas individuais ou empresas.

As campanhas podem ser por:

  • Recompensa: quem cria a campanha de crowdfunding oferece uma recompensa aos participantes que financiam o projeto.
  • Doação: uma vertente muito utilizada por OSCs, que funcionam através de donativos sem recompensa. É o caso das campanhas de crowdfunding que as organizações sociais podem fazer na esolidar.
  • Capital:  aqui, o investidor torna-se parte do grupo de acionistas do projeto. Ao investir em uma campanha, compra uma pequena parte da empresa, assumindo todos os direitos e deveres de um acionista.
  • Empréstimos (Peer-to-Peer): este tipo de campanha funciona como um empréstimo, em que quem investe fundos para apoiar o projeto recebe uma taxa de retorno. Existe o risco de não receber nenhum valor de volta.

Agora você já sabe o que é capacitação de comunidades vulneráveis e conhece os principais caminhos para colocar esta ideia em prática. Que tal ler um pouco mais sobre o Programa de Aceleração de Negócios de Impacto? A solução vem ganhando a atenção de empresas e órgãos governamentais, e pode ser o impulso necessário para ajudar a sua OSC a transformar a vida de comunidades inteiras!

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